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Análise 360°: como essa estratégia pode apoiar sua empresa no contexto da Reforma Tributária? 

Reprodução: Freepik.

Por Liêda Amaral

Com o gradativo avanço da Reforma Tributária – que traz consigo, inclusive, um período complexo de convivência entre duas sistemáticas fiscais opostas em seus principais pilares –, cresce a demanda por instrumentos técnicos capazes de auxiliar empresas na adaptação e otimização de seus processos.  

Essa, aliás, é uma demanda urgente, dado o fato de que a implementação do IBS e do CBS já começa a valer a partir de 2026 com alíquotas reduzidas e que, segundo estudo recente, nada menos que 85% das empresas ainda não se dizem preparadas para o novo contexto tributário imposto pela Reforma.  

É nesse contexto que a análise 360° dos processos fiscais de uma organização surge como uma metodologia essencial para que o mercado possa se antecipar à principal mudança tributária do país das últimas décadas.  

Ao oferecer uma visão sistêmica e detalhada da estrutura produtiva, contábil e fiscal de uma empresa, essa abordagem permite não apenas o diagnóstico de gargalos operacionais, mas também a identificação de oportunidades, incluindo, por exemplo, as possibilidades de aproveitamento de créditos – ferramenta que pode pode ser crucial para a sustentabilidade de uma empresa, diante do fim previsto do modelo clássico de benefício fiscal na nova estrutura tributária de um país. 

A Análise 360º, nesse sentido, envolve um processo de assessment amplo, que abarca o levantamento minucioso de dados operacionais e fiscais, mapeamento de processos, revisão de práticas contábeis, análise da cadeia de valor e da formação de preços, além da avaliação da conformidade tributária frente ao novo arcabouço fiscal do país.  

O objetivo é proporcionar uma leitura completa da empresa sob múltiplas perspectivas, oferecendo subsídios para decisões mais precisas, redução de riscos e aumento de produtividade. 

No cenário atual, a aplicação dessa análise é particularmente estratégica. Com o fim do PIS e da Cofins previsto para 2027 e a substituição progressiva por CBS e IBS, a estrutura tributária brasileira caminha para uma reconfiguração que impactará diretamente a modelagem de negócios e a gestão de fluxo de caixa nas empresas.  

Ato contínuo, a coexistência temporária – mas longa, até 2033 – entre o regimes antigo e o novo exigirá das organizações uma governança fiscal refinada e adaptável. Nesse processo, a análise 360° tem potencial para atuar como instrumento não só de antecipação de riscos, mas uma verdadeira alavanca de eficiência. 

Ferramenta estratégica para o crescimento sustentável no cenário da Reforma

Ao contrário de soluções pontuais ou voltadas exclusivamente para “conter danos”, a análise 360° se caracteriza por seu caráter multidisciplinar e preventivo. Ela permite, por exemplo, simular diferentes cenários de tributação conforme a geografia das operações, avaliar o impacto de benefícios fiscais que perderão validade, identificar oportunidades dentro do panorama de curto prazo e de aproveitamento de créditos no longo prazo, além de possibilitar, inclusive, o redesenho do modelo de negócios frente ao novo paradigma do princípio do destino, que alterará o local de arrecadação e tende a impactar muitos negócios do país. 

O novo ambiente fiscal brasileiro exige, assim, não só a conformidade, mas a busca por novas fontes de geração de valor e de eficiência tributária. Nesse contexto, um assessment abrangente permite à empresa entender, por exemplo, quais insumos serão passíveis de crédito na nova sistemática, como reposicionar operações interestaduais para otimização fiscal, ou ainda revisar contratos à luz das novas regras. 

Naturalmente, a implementação de uma análise 360° requer metodologia, acesso qualificado a dados e conhecimento técnico especializado. O ponto de partida é o mapeamento detalhado da operação, com revisão de sistemas, processos tributários e financeiros. Em seguida, os aspectos tecnológicos e as rotinas operacionais são avaliadas, buscando-se, por fim, a identificação de oportunidades e um planejamento tributário que faça jus as variáveis econômicas e fiscais do novo ambiente normativo. 

É nesse ponto que surgem os principais desafios. Muitas empresas ainda mantêm processos manuais ou fragmentados, o que dificulta a consolidação de informações confiáveis. Além disso, a falta de padronização entre áreas internas e a ausência de cultura de dados tornam o assessment mais moroso. Por isso, a adoção de soluções tecnológicas — como plataformas em nuvem e ferramentas de cruzamento inteligente de dados — é uma base decisiva dessa jornada. 

Com tudo isso, é possível afirmar que as empresas que investem em uma análise 360° ganham mais do que controle fiscal — conquistam previsibilidade, eficiência operacional e vantagem competitiva. Assim, o assessment tributário se coloca como uma resposta técnica à altura dos desafios – e possíveis oportunidades – que se abrem com a Reforma, transformando a atual incerteza em um caminho sustentável para o futuro dos negócios do país. 


Liêda Amaral é sócia da BSSP Consulting e ex-secretária adjunta da Receita Federal 


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.

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