KPMG aponta transformação necessária nas áreas tributárias em meio a desafios globais e tecnológicos

Tecnologia
Markus Spiske via Unsplash

Por Enzo Bernardes

As áreas tributárias vivem um momento de intensas transformações, com líderes enfrentando pressões crescentes sobre recursos e competências das equipes. Questões geopolíticas, regulamentações em constante evolução, escassez de talentos e rápida mudança tecnológica estão configurando um cenário desafiador, mas também repleto de oportunidades. Essa é a conclusão da pesquisa “Navegando nas forças da mudança na área tributária”, conduzida pela KPMG.

Modelos operacionais tributários tradicionais estão sob extrema pressão em um mundo de mudanças constantes e recursos limitados. As grandes pressões sobre as áreas tributárias não serão corrigidas com uma única solução. Apesar dos desafios, as equipes de tributos podem transformar modelos operacionais e aprimorar estratégias. O sucesso será atingido em uma jornada contínua com a área tributária evoluindo nesse ambiente de constante transformação e impactando diretamente os negócios“, afirma Marienne Coutinho, sócia-líder de Tax Transformation da KPMG no Brasil.

De acordo com a pesquisa, a transformação da área tributária é impulsionada por três fatores principais: avanços na Inteligência Artificial (IA), implementação do BEPS 2.0 e o desafio de talentos. As incertezas geopolíticas, as transformações financeiras e as pressões econômicas estão testando os modelos tributários tradicionais, exigindo uma reavaliação de recursos, da qualidade dos dados e das estruturas de governança.

O estudo destaca também o papel da IA Generativa, apontada como ferramenta essencial para redefinir processos e aumentar a produtividade. Para aproveitar ao máximo essa tecnologia, as equipes tributárias precisam desenvolver habilidades técnicas robustas, aliadas a um julgamento comercial estratégico.

O time do Portal da Reforma Tributária entrevistou Paola Dôliveira, sócia de Tax Transformation da KPMG no Brasil, para obter mais detalhes sobre o material. Confira abaixo as perguntas e respostas:

1 – A pesquisa da KPMG mostra que a gestão tributária está em um ponto de virada impulsionado pela política tributária, pela inteligência artificial e pela escassez de talentos. Na sua visão, qual desses três vetores tem provocado as mudanças mais profundas nas empresas brasileiras, e por quê?

    No Brasil, a política econômica e tributária tem ganhado um destaque especial, não necessariamente sendo o vetor mais disruptivo, mas sem sombra de dúvidas trazendo significativas mudanças no contexto tributário, acompanhadas de uma pesada carga de regulamentações. A complexidade do sistema tributário nacional atual, somada às reformas tributárias em andamento e seu período de transição (tanto sobre o consumo quanto sobre a renda), exige das empresas uma capacidade contínua de adaptação. Eu sempre menciono aos meus clientes que a Inteligência Artificial, especialmente a generativa, veio impor ritmo à nossa capacidade de se adaptar e transformar.

    Trata-se de uma oportunidade para alavancar a assertividade e repensar sistematicamente formas de responder a esses desafios com base em dados sistematizados e reflexão consistente e contínua. Já a escassez de talentos, como vetor transformacional, nos demanda repensar nossas estruturas de aprendizado e desenvolvimento, formação e carreiras dentro das organizações. A profundidade das mudanças está relacionada à nossa capacidade de responder a elas de forma ágil e consistente.

    2 – A Inteligência Artificial Generativa é apontada como essencial para redefinir processos e aumentar a produtividade nas áreas de tributos. Como a IA pode ser aplicada, de forma prática, na rotina fiscal e de compliance, e quais os riscos ou limitações que ainda precisam ser superados?

    A IA Generativa pode ser aplicada de forma estratégica para acelerar nossos processos de análises, insights e criações de conteúdo. Portanto, alguns exemplos de sua aplicação são em atividades que demandam uma curadoria especializada, mas que aceleram processos de leitura e interpretações legislativas e regulatórias, além de terem capacidade para gerar simulações de cenários com base em alterações legislativas. O LLM pode também ser estruturado com base em grandes volumes de dados para analisar potenciais inconsistências ou oportunidades. Outro potencial a ser explorado é no suporte à redação de pareceres tributários e respostas a fiscalizações.

    É importante ressaltar que todas as aplicações mencionadas acima, embora não exaustivas, demandam um julgamento humano especialista, considerando a complexidade dos temas e casos de uso. Para isso, é importante olhar para os dados como fontes ricas de conhecimento estruturado, bem como nosso potencial em protegê-los, sob a perspectiva de segurança da informação e confidencialidade, assegurando que sejam confiáveis.

    O desenvolvimento dos profissionais na aplicação de inteligência artificial generativa é essencial para evoluirmos na capacidade de interação e geração de outputs que agreguem valor às nossas rotinas. O uso responsável de IA Generativa precisa ser abordado de maneira consistente dentro das empresas, apoiado em políticas de utilização responsável, homologações de soluções e também debates éticos no seu uso corporativo.

    3 – O estudo também cita o desafio da escassez de talentos com competências híbridas, técnicas e estratégicas. Que perfil profissional o setor tributário vai demandar nos próximos anos e como as empresas podem se preparar para formar ou atrair esses talentos?

    Mais do que o domínio técnico da legislação e contabilidade tributária, o letramento digital se torna imprescindível, assim como o conhecimento de negócios para uma atuação menos transacional e mais estratégica, consultiva e voltada para a geração de valor. Sem dúvida, estratégias como maior investimento em capacitação e treinamentos, bem como ações e experiências variadas que visem à oxigenação do conhecimento, como eventos, parcerias com universidades, visitas a hubs de tecnologia, podem ser colocadas em prática para acelerar esse processo e diferenciar os profissionais da sua empresa.

    4 – Diante de tantas pressões (regulatórias, tecnológicas e geopolíticas) a KPMG recomenda uma reelaboração dos modelos operacionais tributários. Que características definem uma “área de tributos do futuro” e o que diferencia as organizações que já estão à frente nessa transformação?

    A área tributária do futuro é caracterizada por uma abordagem digital-first e orientada a dados. Essa estruturação já vem acontecendo em algumas companhias e clientes nossos, mas a relevância do tema alcança outro patamar a partir da aplicação de inteligência artificial generativa. Agilidade e adaptabilidade, bem como a colaboração com outras áreas, também serão direcionadores estratégicos para um novo posicionamento de atuação, tendo em vista seus novos desafios.

    Por fim, da liderança tributária espera-se um foco cada vez mais robusto na geração de valor (menos transicional), a capacidade de antecipar tendências regulatórias e tecnológicas, além de atração, formação e capacitação de equipes digital-first e altamente especializadas.

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