
Por Felipe Beraldi
Para quem ainda tinha dúvidas sobre a efetivação da Reforma Tributária no Brasil, o cenário atual deixa poucas margens para hesitação: ela já começou. Desde a promulgação da Emenda Constitucional nº 132, em dezembro de 2023, a reestruturação do sistema tributário nacional deixou de ser apenas uma proposta política para se tornar uma transformação concreta na economia brasileira. O tema saiu do campo das intenções e entrou no calendário das empresas, com prazos, metas e implicações práticas.
Mesmo assim, muitos empreendedores mantiveram certa resistência ao tema em 2024, encarando-o como um debate ainda distante da prática empresarial. No entanto, isso mudou com a sanção da Lei Complementar nº 214/2025, que regulamenta a nova tributação sobre o consumo e inaugura um novo ciclo de adaptação. A partir desse marco, o empresariado começou a encarar com mais atenção o impacto da Reforma no dia a dia. Ainda assim, o nível de planejamento prático por parte das empresas segue aquém do necessário.
A Reforma Tributária propõe mudanças profundas que vão muito além da troca de siglas e nomes de tributos. Estamos falando de uma nova lógica na forma de apuração de impostos ao longo das cadeias produtivas, com impacto direto sobre preços de compra e venda, margens, rentabilidade e, principalmente, sobre os principais indicadores financeiros dos negócios.
Entre os pontos mais sensíveis, destacam-se a maior complexidade na gestão do fluxo de caixa — impulsionada pela futura adoção do split payment (modelo no qual o imposto é retido na liquidação financeira da operação) — e a ampliação do direito ao crédito tributário. Este último, poderá influenciar a escolha do regime tributário, inclusive entre empresas de menor porte.
No modelo atual, o Simples Nacional não permite o aproveitamento de créditos sobre aquisições e oferece pouco crédito para os clientes dessas empresas. Com a nova sistemática da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), empreendedores do Simples precisarão reavaliar suas estratégias. O regime simplificado poderá, em muitos casos, deixar de ser o mais vantajoso, algo inédito para uma fatia importante das PMEs.
O período de transição, que começa em 2026 e vai até 2033, deve ser encarado como uma janela estratégica. Ele oferece tempo para que as empresas se preparem, ajustem seus modelos de operação e incorporem soluções de gestão mais robustas. Tomar decisões equivocadas nesse momento, como aderir a um modelo de recolhimento do IVA-dual sem considerar sua competitividade, pode comprometer seriamente a sustentabilidade do negócio no médio e longo prazos.
Ainda há tempo para agir, mas não muito! O primeiro passo é buscar informação qualificada e entender, de fato, como a Reforma afetará a operação da empresa. Em seguida, é essencial investir em tecnologia e gestão, pois sem dados organizados e confiáveis será praticamente impossível traçar estratégias sólidas para adaptação. Além disso, o papel do contador ganhará nova relevância, pois ele deixará de ser apenas responsável pela conformidade fiscal para se tornar um parceiro estratégico das decisões empresariais.
Além disso, o papel do contador ganhará nova relevância. Ele deixará de ser apenas responsável pela conformidade fiscal para se tornar um parceiro estratégico das decisões empresariais. Mas, segundo pesquisa da Omie, 60% dos contadores afirmam não se sentir prontos para lidar com as mudanças trazidas pela Reforma Tributária, o que acende um alerta para empresários que dependem desse suporte. O mesmo levantamento mostra que 75% dos empreendedores esperam que seus contadores assumam uma postura mais consultiva e 40% afirmam estar dispostos a trocar de escritório caso não encontrem esse perfil.
A Reforma Tributária já está em curso e afetará empresas de todos os tamanhos e segmentos. Ignorar seu avanço ou postergar o planejamento é uma aposta arriscada. Preparação, agilidade e adaptação são os caminhos mais seguros para manter a competitividade e assegurar a sustentabilidade dos negócios diante das profundas mudanças que se aproximam. Não espere que as novas regras batam à porta: comece hoje a preparar seu negócio para um novo ciclo da economia brasileira.
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Felipe Beraldi é economista da Omie
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