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Tarifas sobre aço e alumínio e tensões com a China: empresas brasileiras navegam em mar de incertezas

Por Iuly Dutra

O cenário do comércio internacional continua a ser moldado por tensões e políticas protecionistas, com destaque para as tarifas sobre aço (25%) e alumínio (10%) que os Estados Unidos impuseram ou ameaçam impor sobre importantes parceiros comerciais, como México e Canadá, além das persistentes restrições comerciais direcionadas à China. Essa reconfiguração das regras do jogo global não passa despercebida pelas empresas brasileiras, que se veem diante de um complexo tabuleiro de desafios e oportunidades.

A imposição de barreiras tarifárias pelos Estados Unidos sobre produtos de vizinhos e do gigante asiático tem um efeito dominó que transcende as fronteiras desses países. Para o Brasil, um relevante player global nos mercados de commodities e produtos manufaturados, os impactos podem ser variados.

Um dos principais desafios reside na potencial alteração dos fluxos comerciais. Produtos de aço e alumínio do México e Canadá, ao encontrarem barreiras no mercado americano, podem ser redirecionados para outros mercados a preços mais competitivos, aumentando a concorrência para os exportadores brasileiros nesses destinos. Da mesma forma, produtos chineses que enfrentam restrições nos Estados Unidos podem buscar novos compradores, intensificando a disputa em diversas regiões, inclusive na América Latina.

Outro ponto de atenção são as cadeias de suprimentos. Empresas brasileiras que dependem de insumos ou componentes provenientes de países afetados pelas tarifas ou restrições podem enfrentar aumento de custos ou necessidade de buscar fornecedores alternativos, gerando rupturas e impactando a competitividade de seus produtos finais.

Além disso, a instabilidade econômica global gerada por essas disputas comerciais cria um ambiente de negócios mais volátil. A imprevisibilidade dificulta o planejamento de longo prazo, afeta taxas de câmbio e pode desestimular investimentos, tanto estrangeiros quanto domésticos. O risco de retaliações cruzadas entre as grandes potências também paira no ar, podendo levar a uma escalada protecionista que prejudique o comércio multilateral como um todo, afetando até mesmo países não diretamente envolvidos nas tarifas iniciais.

Contudo, nem só de desafios vive o cenário. Empresas brasileiras podem encontrar oportunidades estratégicas nesse novo contexto. A principal delas reside na possibilidade de substituição de fornecedores. Compradores americanos, buscando alternativas aos produtos tarifados do México, Canadá ou China, podem se voltar para o Brasil como uma fonte confiável e competitiva, especialmente em setores onde o país já possui capacidade produtiva e qualidade reconhecida.

A reconfiguração das cadeias globais de valor também pode, em alguns casos, beneficiar o Brasil. Empresas multinacionais que buscam diversificar seus riscos e reduzir a dependência de fornecedores chineses ou de países sob a mira de tarifas podem considerar o Brasil como um local estratégico para produção ou fornecimento, embora isso dependa de fatores como ambiente de negócios, custos logísticos e estabilidade regulatória.

Finalmente, a mudança na dinâmica competitiva pode abrir nichos de mercado. Se concorrentes diretos do Brasil em outros países forem mais duramente atingidos pelas barreiras comerciais ou por retaliações, empresas brasileiras podem ganhar market share em mercados terceiros.

Diante dessa dualidade, a palavra de ordem para as empresas brasileiras é adaptação. É fundamental monitorar de perto as políticas comerciais globais, analisar os impactos específicos em seus setores e mercados de atuação, e desenvolver estratégias proativas, o que incluiria:

Diversificação: buscar novos mercados de exportação e novas fontes de importação para reduzir a dependência de poucos parceiros.

Inteligência de Mercado: investir em análise de dados e cenários para antecipar mudanças e identificar oportunidades.

Eficiência e competitividade: otimizar custos, inovar em produtos e processos para fortalecer a posição competitiva.

Diálogo: manter comunicação ativa com entidades setoriais e governo para buscar apoio em negociações comerciais e políticas de mitigação.

As tarifas e restrições comerciais impostas por grandes economias como os Estados Unidos são um lembrete da fluidez e da complexidade do comércio global. Para as empresas brasileiras, navegar neste cenário exige agilidade, visão estratégica e resiliência, transformando potenciais ameaças em motores para o crescimento sustentável e a consolidação de sua presença internacional.


Iuly Dutra é contadora especialista em tributário da MSL Advocacia de Negócios.


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.

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