
Por Nícola Martins
Tenho falado com muita gente sobre a reforma tributária. Empresários, contadores, advogados, gestores públicos. A conclusão é preocupante: há um abismo entre o tamanho da mudança e o nível de preparo de quem vai ser diretamente afetado por ela. O IVA Dual, formado pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), vai mudar completamente a forma como o Brasil cobra tributos. Não é ajuste pontual, é transformação estrutural. E quem ainda está tratando isso como assunto distante está brincando com fogo.
Estamos a poucos meses de 2026. Mesmo assim, ainda vejo gestor municipal prometendo atrair empresas com 10 anos de isenção de ISS. ISS que, no novo modelo, perderá relevância. Isso é ignorância ou descaso? Em qualquer dos casos, é inadmissível. Gestores públicos que não estão mensurando o impacto em seus contratos de concessão.
O setor privado também não está imune à crítica. Muitas empresas sequer iniciaram o mapeamento básico de impacto. Não revisaram contratos. Não projetaram novos preços. Não calcularam o efeito sobre a geração e uso de créditos tributários. É como esperar o vendaval chegar e só depois pensar em fechar as janelas.
Essa inércia tem um custo. E ele será alto. Cidades perderão competitividade, empresas perderão margens, empregos serão cortados. E tudo isso não por causa da reforma em si, mas por falta de preparo para ela. Já tratei, em outro artigo, sobre o risco de cidades terem de ser incorporadas com outras por conta da reforma.
Preparar-se é obrigação imediata. E mais: é preciso comunicar o que está sendo feito. A população tem o direito de saber se sua cidade está pronta. Prefeituras, câmaras municipais e entidades de classe precisam abrir esse debate de forma clara e constante. Não é marketing. É sobrevivência. Quem se esconder agora será lembrado no futuro como o gestor que falhou diante de uma das maiores mudanças fiscais da história do país. E quando a conta chegar, não haverá desculpa plausível.
Nícola Martins, administrador público e vereador em Criciúma (SC).
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