Reforma tributária avança sem adiamento e traz desafios para empresas, apontam especialistas

Por Douglas Rodrigues, de Porto Alegre (RS)

Durante o lançamento da quarta edição da Revista da Reforma Tributária, realizado em Porto Alegre, o secretário da reforma tributária do consumo na Receita Federal, Marcos Flores, reforçou que a implementação do novo modelo tributário está mantida para 1º de janeiro de 2026 e que o país vive uma fase decisiva de preparação.

Flores afastou a possibilidade de qualquer adiamento, ao explicar que uma prorrogação só seria possível por meio de uma nova emenda constitucional aprovada ainda neste ano, o que, segundo ele, é improvável.

Ele reforçou que o Fisco já desenvolve o sistema da CBS desde o final de 2023 e o piloto, com 247 empresas, está em andamento desde julho deste ano:

Em janeiro de 2026, nós teremos o mínimo produto viável do sistema. Quer dizer, um sistema sem grandes melhorias, que não está perfeito, não tem acessórios, mas que roda”, explicou.

Flores ressaltou que o ano de 2026 será dedicado a testes e ajustes, período em que as empresas deverão concentrar esforços na adequação de sistemas e processos, de modo a se prepararem para o início efetivo dos recolhimentos, previsto para 2027.

Movimentação técnica e estratégica

Da dir. para esq: Rafael Oliveira, head of consulting da Brain, e Jean Soares, CEO da Taas, durante seminário de lançamento da revista, onde eles explicaram como vai ficar as atualizações do SAP para a reforma tributária – Foto via Portal RT

O head of consulting em SAP da Brain, Rafael Oliveira, afirmou que as empresas já iniciaram seus projetos de adaptação à reforma tributária e que o momento é de forte movimentação técnica e estratégica dentro das organizações. Segundo ele, o desafio é grande, mas as companhias precisam avançar, mesmo diante de incertezas e ajustes contínuos.

O executivo explicou que, embora muitas empresas ainda esperassem um adiamento das exigências, o cenário é de continuidade:

São desafios muito grandes. E já existiam algumas pessoas que tinham esperança de que a gente fosse adiar, mas não vai acontecer. Então, esse é o pacote que a gente tem hoje, e a gente está reformulando ele para seguir com ele para o próximo ano”, afirmou.

Oliveira afirmou que a estratégia da consultoria segue inalterada e continua estruturada em ciclos sucessivos de reanálise, reavaliação, implantação e acompanhamento das etapas de adaptação à reforma tributária.

Ele detalhou que o processo de implementação da reforma nas empresas envolve uma primeira fase voltada à edição e adequação de documentos fiscais e à análise de impactos, seguida por uma etapa de ajustes nos sistemas e demais estruturas operacionais:

A visão de diagnóstico e a validação dos impactos geram toda uma documentação neste primeiro momento, focada na edição de documentos fiscais e nos impactos; no segundo momento, o trabalho será baseado na finalização, nos impactos nos sistemas e em todos os demais aspectos”, disse.

Participante aproveita evento para anotar os insights sobre a reforma tributária – Foto via Portal RT

Nesse sentido, Jean Soares, CEO da Taas Consulting, destacou a dificuldade de muitas empresas em se conectar com as mudanças fiscais e sistêmicas:

Se não houver dúvidas sobre a reforma, se ela vai ou não acontecer, o que percebemos no início — e que nos motivou a começar a fazer os eventos — é que muitas empresas ainda estavam totalmente desconectadas do que estava acontecendo”, afirmou.

Soares explicou que o ambiente SAP, muito utilizado em grandes empresas, torna a implementação da reforma tributária mais complexa, pois os projetos nesse sistema não acontecem rapidamente. Segundo ele, o acesso necessário para iniciar os trabalhos pode levar semanas ou meses.

Ele citou como exemplo uma reunião realizada à noite com um cliente, para alinhar o projeto com a equipe do Taiwan, que precisava compreender primeiro o que envolvia a reforma tributária antes de liberar o acesso.

A complexidade acaba aumentando. O mapeamento de processos e a compreensão do impacto sistêmico são muito mais desafiadores. Além das variáveis de negócio, existem diversas variáveis sistêmicas que precisam ser consideradas, e, ao colocar uma operação em produção no SAP, outros atributos entram em jogo. Muitas vezes é preciso traduzir a linguagem de negócio para a linguagem do sistema para que tudo funcione corretamente”, disse.

Impactos no caixa

Caroline Souza, CFO da ROIT, reforçou que, do ponto de vista das empresas, a transição trará impactos significativos no caixa, nos preços e na margem de lucro, exigindo um planejamento detalhado:

Eu vou precisar de mais dinheiro para pagar exatamente o que já pago hoje. Depois, com o crédito, a situação se equilibra — é aquele vai e vem: primeiro aperta, depois melhora”, disse.

Na foto, Caroline Souza, CFO da ROIT – Foto via Portal RT

A CFO explicou que o crédito financeiro previsto no novo modelo estará condicionado ao efetivo pagamento do imposto pelo fornecedor, podendo também ser obtido caso o próprio adquirente opte por realizar esse recolhimento de forma direta.

Com bom humor, ela classificou o novo imposto como um modelo “brasileiro de ser”:

Pode ser o mesmo nome, com regras diferentes. Esse é o nosso “Ivão” brasileiro. Abrasileirado, tropicalizado. É um IVA brasileiro. Ele é um abacaxi disfarçado de IVA, que samba, bebe caipirinha, joga futebol”, brincou.

O evento foi realizado no Instituto Caldeira e contou com mais de 100 participantes;

Revista da Reforma Tributária

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