Reforma tributária reposiciona a contabilidade nas empresas

Reprodução: Freepik.

Por Guilherme Pellegrini 

A reforma tributária em curso no Brasil não é apenas um rearranjo legislativo: ela representa uma mudança estrutural no modo como empresas, governos e profissionais interagem com o sistema de arrecadação. Nesse novo cenário, o contador deixa de ser mero executor de obrigações acessórias para assumir protagonismo como articulador estratégico da transição.

Durante décadas, a contabilidade foi vista em muitas empresas como um serviço obrigatório, necessário apenas para atender ao Fisco. Essa visão reducionista, que enxerga o contador como um “mal necessário”, perde sentido em um ambiente em que interpretação, planejamento e adaptação normativa passam a ser diferenciais de sobrevivência.

A reforma prevê simplificação de tributos, mudanças em regimes e novas dinâmicas de apuração. A complexidade, antes pulverizada em diversas obrigações, agora se concentra em estruturas que exigirão interpretação cuidadosa. É nesse ponto que o contador deixa de ser coadjuvante e passa a assumir protagonismo na leitura e aplicação das novas regras.

Mais do que calcular impostos, caberá a esse profissional analisar cenários, identificar riscos e propor caminhos de eficiência tributária. Em outras palavras, a contabilidade deixa de ocupar espaço meramente operacional para se tornar instrumento de inteligência de negócios.

Apesar da relevância crescente, grande parte dos escritórios ainda enfrenta entraves internos: ausência de processos padronizados, dificuldade em orientar clientes e baixa maturidade digital. Esse descompasso gera desperdício de tempo com tarefas manuais e reduz a capacidade de entregar valor consultivo.

A transformação que a reforma impõe não é apenas normativa, mas cultural. O contador que não organizar seus fluxos, não investir em capacitação e não assumir postura de liderança tende a perder espaço para modelos mais estruturados.

Se a reforma amplia a demanda por visão estratégica, também intensifica a necessidade de ferramentas que sustentem esse papel. A tecnologia, nesse contexto, não substitui o profissional, mas libera recursos para que ele atue onde realmente gera valor: no aconselhamento, no planejamento tributário e na tradução da reforma para a realidade de cada empresa.

A contabilidade não pode mais ser reduzida à função burocrática. O contador é o elo entre a legislação tributária e a saúde financeira das organizações. Sua atuação, quando apoiada por processos bem estruturados e uso adequado de tecnologia, transforma a relação entre empresas e governo e reposiciona o próprio mercado contábil.

A reforma tributária é um divisor de águas. Tratar a contabilidade como mera obrigação acessória será insistir em um modelo ultrapassado. As empresas que reconhecerem o contador como parceiro estratégico estarão mais preparadas para atravessar a transição, capturar oportunidades e construir negócios sustentáveis.


Guilherme Pellegrini é diretor de operações da Questor.


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