Três pilares para crescer nas carreiras de Finanças e Tributos em tempos de reforma do consumo

Foto via Freepik

Por Nicholas Meira

Estamos diante da maior transformação tributária das últimas décadas, capaz de redefinir não apenas a forma como consumimos, mas também como planejamos e gerimos negócios. A Reforma Tributária do Consumo, que substituirá gradualmente tributos como PIS, Cofins, ICMS, ISS e IPI por um modelo dual de IVA — composto pela CBS (tributo federal) e pelo IBS (tributo estadual e municipal), além do Imposto Seletivo (IS) — representa uma mudança estrutural que impactará empresas, governos e profissionais. A transição, prevista para ocorrer entre 2026 e 2033, exigirá dos especialistas em Finanças e Tributos não apenas conhecimento técnico, mas também postura estratégica e ética.

Existem diversas competências necessárias para sustentar o crescimento na carreira, mas três se destacam como pilares indispensáveis: aprendizado contínuo, habilidades de comunicação e ética profissional.

Aprendizado contínuo: navegar na transição

A reforma trará mudanças profundas nos processos de gestão e emissão de notas fiscais. Estima-se que o novo sistema precisará lidar com até 25 mil transações por segundo, o que representa 70 bilhões de documentos fiscais por ano e cerca de 800 bilhões de operações anuais. Esse volume monumental exigirá novas plataformas tecnológicas e maior capacidade de análise de dados.

Para os profissionais, isso significa que o aprendizado contínuo não é opcional: é vital. Cursos de atualização, participação em seminários, comunidades tributárias e estudo das normas complementares são ferramentas para antecipar riscos e orientar empresas na transição. Segundo levantamento da Thomson Reuters, apenas 19% das empresas têm um plano estruturado de adaptação, enquanto 34% ainda não avaliaram os impactos na precificação. Estes dados mostram que há espaço para profissionais preparados se destacarem como líderes nesse processo, alavancando a carreira através de oportunidades únicas!

Além disso, cada setor terá desafios específicos. A indústria farmacêutica, por exemplo, contará com regimes diferenciados; o varejo precisará rever estratégias de precificação, site location e fluxo de caixa; e empresas de serviços digitais terão de lidar com novas regras de tributação transfronteiriça. Profissionais que se aprofundarem nessas particularidades estarão mais bem posicionados para liderar mudanças e se destacar no mercado. 

Portanto, buscar conhecimento e manter-se atualizado não é uma opção, e sim uma necessidade para quem quer entregar resultados para suas empresas e clientes, bem como alavancar a carreira, surfando a onda da implementação da Reforma Tributária.

Comunicação: traduzir complexidade para diferentes públicos

Dominar conceitos técnicos é essencial, mas saber comunicá-los de forma clara e objetiva é o que diferencia um bom técnico de um excelente líder. A implementação da reforma exige que especialistas consigam adaptar o discurso ao público, seja ele qual for.

Ao falar com a diretoria, é preciso destacar impactos estratégicos, como efeitos no fluxo de caixa, na competitividade, nos contratos e até mesmo na malha logística. Já em reuniões com auditores ou autoridades fiscais, o detalhamento técnico das novas regras do IBS e da CBS é indispensável, trazendo ideias, compartilhando riscos e principalmente colocando as oportunidades na mesa.

Pesquisa da KPMG mostra que 86% das empresas ainda não têm visão consolidada dos impactos financeiros da reforma, e 51% não elaboraram plano de ação. Nesse contexto, a comunicação clara e adaptada é essencial para orientar gestores e equipes.

Mais do que falar bem, é necessário estruturar a informação. Ferramentas como dashboards, relatórios executivos e workshops internos podem ser utilizadas para traduzir a complexidade da reforma em mensagens compreensíveis. O profissional que domina essa habilidade se torna peça-chave na tomada de decisões e certamente se destaca frente aos demais colegas.

Ética: o alicerce inegociável

Se há um aspecto que não admite negociação nas carreiras de Finanças e Tributos, é a ética. A reforma busca simplificação e transparência, mas também expõe empresas a novos riscos de interpretação e adaptação. Nesse cenário, princípios éticos são inegociáveis.

Profissionais que tentam explorar brechas ou adotar práticas questionáveis podem comprometer não apenas a conformidade da empresa, mas também sua reputação no mercado. Com a digitalização e o monitoramento em tempo real das operações de consumo, práticas pouco éticas serão rapidamente identificadas.

A ética deve orientar o planejamento tributário, garantindo que estratégias estejam alinhadas com a legislação e com valores de integridade. Empresas que investem em governança tributária fortalecem sua imagem perante investidores e stakeholders. Em tempos de maior fiscalização, a postura ética não apenas evita riscos, mas também posiciona o profissional como líder confiável, que se preocupa com compliance e busca sempre alternativas viáveis para a prosperidade do negócio.

Por fim, sei que você, leitor ou leitora já deve estar cansado ou cansada de ouvir ou ler esta máxima, mas vale sempre destacar que o projeto da Reforma Tributária do Consumo é muito mais do que uma mudança normativa: é uma reforma econômica, como bem pontuado por Adriano Subirá na gravação do Power Tax Cast*. Trata-se de uma transformação estrutural que redefine a forma como empresas e profissionais lidam com tributos.

Para crescer nesse cenário, é essencial investir em aprendizado contínuo, desenvolver habilidades de comunicação adaptadas ao público e manter a ética como princípio inegociável. Profissionais que abraçam esses pilares não apenas crescerão em suas carreiras, mas também serão protagonistas na construção de um sistema tributário mais justo e eficiente para o Brasil.

Link para acessar o podcast.

Fontes: 

Serpro – Entenda o tamanho da reforma tributária 

Thomson Reuters – Reforma Tributária do Brasil 2025 

KPMG – Pesquisa Reforma Tributária do Consumo


Nicholas Meira é gestor de tributos na Philip Morris Brasil e presidente na Comunidade Power Tax Brasil, uma comunidade tributária com mais 150 tributaristas, que representam mais de 80 empresas de diversos segmentos de mercado.


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.

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