
Por Gabriel Benevides, de Brasília
A aprovação da reforma da renda por unanimidade na Câmara dos Deputados teve acertos estratégicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de sua equipe. Por outro lado, eventos não planejados pressionaram o resultado.
Impulsionada pelo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Sidônio Palmeira, a campanha popular de apoio à taxação dos chamados “super-ricos” deu mais visibilidade ao projeto.
Sem um engajamento forte da população em geral, Lula estava em um momento de baixa na popularidade. A campanha deu fôlego ao presidente.
Chama a atenção ainda que a explicação sobre os tributos veio com pouco uso de termos técnicos, com linguagem simplificada para o público em geral. Abandonou-se o “economês” e ofuscou-se o debate sobre dividendos, por exemplo.
Outro acerto do petista foi o acordo para colocar Arthur Lira (PP-AL) como relator do projeto (PL 1.087 de 2025) na Câmara. O alagoano é ex-presidente da Casa, respeitado pelos deputados e com um forte poder de articulação.
A presença de Lira influenciou para que o relatório não sofresse modificações substanciais em relação ao que foi idealizado por Lula, mesmo com a pressão de congressistas para desidratar os meios de compensação.
Do lado do acaso, o desgaste da imagem dos deputados após a aprovação de projetos impopulares pressionou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar a votação.
Os deputados aprovaram a PEC da Blindagem semanas antes da aprovação do PL 1.087. Queriam barreiras para investigações de deputados. A população foi às ruas. O cenário piorou ainda mais quando a pauta foi arquivada pelo Senado, deixando a Casa Baixa como “culpada”.
Não à toa, Motta aproveitou para pautar também projetos sobre segurança pública (tema de apelo popular) logo depois da aprovação do novo IR.
Outra pressão veio do Senado. A CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) da Casa Alta deu aval a um projeto bastante similar ao de Lula por unanimidade em setembro –incluindo para as compensações financeiras com os tributos às altas rendas.
Por si só, já era um recado para a Câmara. Mas houve outro agravante: o relator do texto alternativo na comissão foi Renan Calheiros (MDB-AL). Ele é opositor político de Arthur Lira, o que impulsionou o deputado a destravar a pauta. Ambos devem disputar uma vaga no Senado por Alagoas nas eleições de 2026.