Setor portuário tenta emplacar benefício fiscal para instalações acessórias de exportação, medida abandonada na reforma do consumo

Imagem aérea da Zona Franca de Manaus
Imagem aérea da Zona Franca de Manaus, que tem benefícios fiscais para atrair empresas na região – Foto via Wikimedia Commons

Por Gabriel Benevides, de Brasília

O setor portuário tenta emplacar no Congresso Nacional a ampliação do benefício tributário Reporto, que dá isenção na importação de máquinas. Valeria para mais duas vertentes da cadeia de exportação:

  • Depot – Instalação que guarda contêineres vazios.
  • Redex (Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação) – Instalação auxiliar que prepara cargas para exportação.

A ideia era defendida pelo setor durante a tramitação do 1º projeto de lei de regulamentação da reforma tributária (PLP 68 de 2024), mas foi descartada pelos legisladores.

Agora, o setor se debruça sobre outras proposições. O PL 4.885 de 2016 traz o Reporto para Depot e Redex, mas está parado na CFT (Comissão de Finanças e Tributação) da Câmara dos Deputados.

O pleito é pouco comentado dentro da comissão. Avalia-se haver uma baixa possibilidade de votação. O Portal da Reforma Tributária também apurou haver uma percepção de que não é o momento para ampliar desonerações por causa do quadro fiscal do país.

Outra opção aventada pelo empresariado é a inclusão da norma por meio de emendas ao PL 733 de 2025, que atualiza o sistema portuário e está parado na comissão especial sobre o tema.

O QUE DIZ O SETOR

O IBI (Instituto Brasileiro de Infraestrutura) defende que o Reporto ampliado a Depot e Redex é necessário para renovar o maquinário dessas instalações.

Os produtos mencionados como mais necessários no momento são as empilhadeiras, cuja produção internacional é mais forte.

Presidente do instituto, Mário Povia afirmou ao Portal que a medida traria mais produtividade à importação porque Depot e Redex teriam máquinas que facilitariam a comunicação com o resto do circuito aduaneiro.

“Quando você começa a colocar obstáculos à produtividade, como tributação em vez de capital, você está na contramão de uma política pública, para lá de necessário. Então, a gente está muito confortável em levantar a bandeira. Agora, claro, tem outras coisas em jogo. Tem toda uma questão fiscal complicada que o país está passando”, disse Povia.

A ABTTC (Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres), que representa Redex e Depot, diz que o potencial de impacto seria de aproximadamente R$ 14,8 milhões por ano.

O cálculo se baseia na premissa de que um equipamento novo tem uma carga tributária de US$ 90.000 (R$ 477.550, cotação atual) em 5 anos. São 150 negócios do setor. Assim, se cada um importar uma máquina, pode-se chegar a aproximadamente R$ 74 milhões em meia década –ou os R$ 14,8 milhões anuais.

Dados da Receita Federal mostram que a renúncia com o Reporto no ano passado foi de R$ 328 milhões. Haveria um incremento de 4,5% na renúncia se os números da ABTTC se confirmassem.

O setor defende que poderiam ser criados 375 empregos diretos e 975 indiretos por causa da compra das máquinas, que precisam ser operadas por profissionais.

O QUE DIZ O GOVERNO

O Portal da Reforma Tributária teve acesso a uma nota técnica do Ministério de Portos e Aeroportos lançada em setembro de 2024. A pasta se manifestou favoravelmente à ampliação do Reporto.

Só que o documento ainda considerava premissas antigas, como a inexistência de impacto fiscal. Também repete os dados do setor e traz poucas estimativas próprias.

A reportagem entrou em contato com o ministério via e-mail em 6 de novembro e perguntou se havia um novo posicionamento sobre o tema. Não houve resposta até a publicação da reportagem.

Leia a nota técnica do ano passado:

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