
Por Queila Breder
A reforma tributária deixou de ser apenas um tema do departamento fiscal. Ela é, de fato, uma transformação estrutural que afeta toda a forma de fazer negócios no Brasil. O que antes era visto como um desafio técnico passou a ser uma pauta estratégica — que muda custos, preços, localização de investimentos e até o relacionamento com clientes e fornecedores.
- Um Novo Jogo para as Empresas
A promessa é de simplificação, transparência e previsibilidade. Mas, até que esse cenário se concretize, empresas precisam se adaptar: atualizar sistemas, treinar equipes, revisar contratos e reavaliar suas decisões estratégicas.
E aqui vai um ponto crucial: essa análise precisa ser holística. Não dá mais pra olhar a reforma só com a lupa fiscal. Ela atravessa toda a empresa , A pergunta não é mais “isso vai me impactar?” É “como eu me reposiciono nesse novo cenário para sair na frente?”
- Impactos-Chave da Reforma
- Localização e mercado consumidor: A tributação no destino muda a lógica de onde investir e produzir. Empresas precisarão se aproximar de seus clientes e rever cadeias logísticas, inclusive em regiões que dependem de incentivos fiscais.
- Risco de nova guerra fiscal: Estados que hoje vivem de benefícios tributários podem enfrentar desinvestimentos e precisarão buscar alternativas para manter competitividade.
- Escolha de fornecedores: Com a nova sistemática de créditos, o regime tributário e o compliance fiscal dos fornecedores serão fatores críticos de contratação, incentivando uma espécie de “autofiscalização” entre empresas.
- ESG e reputação corporativa: A maior rastreabilidade e digitalização do sistema tributário podem reforçar as estratégias de governança e transparência, fortalecendo a imagem da empresa perante investidores e stakeholders.
- Formação de preços: Haverá impacto direto nas margens, exigindo revisão de contratos de longo prazo e estratégias comerciais para manter competitividade.
- Estrutura corporativa e M&A: Empresas precisarão revisar planejamentos societários, holdings e projeções de fluxo de caixa, o que pode afetar operações de fusões e aquisições e valuation.
- Governança e integração: Sem uma governança transversal — envolvendo jurídico, contabilidade, finanças, TI, compras e comercial — nenhuma dessas mudanças será sustentável no longo prazo.
- Conclusão: De Risco a Oportunidade
No fim das contas, a reforma pode representar risco ou oportunidade. A diferença estará na capacidade de cada empresa de se antecipar, integrar suas áreas e transformar a adaptação em vantagem competitiva.
Queila Breder tem 20 anos de experiência na área tributária, com passagens por grandes empresas de consultoria e auditoria como KMPG e EY, além de escritório de advocacia, com foco em conformidade, planejamento e transformação digital. Atualmente, atua como Tax Manager America Latina na SGS, liderando operações em 23 países, impulsionando iniciativas de business partnering, padronização, M&A, Transfer Pricing e gestão de equipes multidisciplinares.
Esse artigo foi escrito por integrantes do Tax Is Cool Plus que fazem parte do nosso Comitê de Reforma Tributária.
Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.