
Por Danilo Leal
No artigo anterior, investiguei o mito de que São Paulo, com sua força de consumo e localização estratégica, seria o destino óbvio para empresas após o fim dos incentivos fiscais. Apontei, contudo, que infraestrutura saturada, custo elevado e gargalos logísticos podem frustrar essa expectativa. A pergunta que se impõe agora é: se não São Paulo, então quem?
O novo ambiente tributário exigirá das empresas um olhar mais amplo. Localização, sim, mas também infraestrutura disponível, estabilidade fiscal, qualidade de vida para atrair talentos, segurança pública, capital humano, e, sobretudo, capacidade dos Estados de se prepararem para competir com o que têm de concreto. Com base nesses critérios, alguns Estados começam a despontar como protagonistas da nova geografia dos investimentos no Brasil.
Minas Gerais é um dos candidatos naturais a assumir esse papel. A posição geográfica privilegiada do Estado, com acesso rodoviário eficiente aos principais mercados do país, vem sendo acompanhada por políticas públicas interessantes. Um exemplo é o programa “Minas Livre para Crescer”, que visa a desburocratização e estímulo ao ambiente de negócios. O Estado tem conseguido atrair grandes Centros de Distribuição para Betim, que se soma à consolidação de Extrema como polo logístico – cidade que, sozinha, viu seu PIB saltar mais de 300% em uma década, impulsionado pela logística e e-commerce.
Em 2024, Minas registrou um crescimento de 3,1% no PIB estadual, 9% do PIB nacional, com destaque para os setores de indústria e serviços. A taxa de desocupação caiu para 4,3%, uma das menores do país. A rede de universidades públicas, com destaque para a UFMG, também contribui para um ecossistema de inovação crescente em áreas como biotecnologia e engenharia. Por outro lado, preocupa o nível do endividamento do Estados que é bastante expressivo.
Santa Catarina, por sua vez, alia eficiência logística a um dos melhores indicadores sociais do país. O Estado figura há anos entre os primeiros colocados no Índice de Competitividade dos Estados do CLP (2º na classificação geral, perdendo apenas para São Paulo), com destaque para os pilares de educação, segurança e infraestrutura. A taxa de analfabetismo é de apenas 2,7%, a menor do Brasil, enquanto a taxa de homicídios é inferior a 10 por 100 mil habitantes, contra uma média nacional que gira em torno de 20.
Além disso, os portos catarinenses são reconhecidos por sua eficiência. O Porto de Itapoá, por exemplo, opera com tempo médio de atracação inferior a 20 horas, muito abaixo das 90 horas do Porto de Santos. Em 2023, Santa Catarina movimentou mais de 50 milhões de toneladas em seus portos, com destaque para exportações industriais. Em paralelo, cidades como Joinville, Blumenau e Florianópolis desenvolvem polos de tecnologia e manufatura avançada. O PIB do Estado cresceu 2,8% em 2023, com renda per capita acima de R$ 45 mil e taxa de desemprego inferior a 5,4%.
Paraná também aparece como forte concorrente nessa nova corrida. Com uma base industrial consolidada, o Estado tem investido em infraestrutura e inovação. O Porto de Paranaguá, segundo maior em movimentação de grãos no país, bateu recorde em 2024 com 66 milhões de toneladas movimentadas. A modernização da malha ferroviária e rodoviária está em andamento com o pacote de concessões de rodovias e o projeto da Nova Ferroeste, que pode ligar o interior ao porto com mais eficiência.
No campo da educação, o Paraná também se destaca. Em 2023, mais de 80% das crianças de 6 anos sabiam ler e escrever, segundo dados do Todos pela Educação, e a rede estadual investe em tecnologia com programas como o “EduTech”. O IDH do Estado é de 0,78 – um dos melhores do país –, e a taxa de homicídios caiu 21% entre 2018 e 2023. No aspecto fiscal, o Paraná manteve superávit primário e aumentou sua capacidade de investimento, com destaque para os setores de energia, mobilidade e inovação.
O Espírito Santo é, talvez, o exemplo silencioso de consistência e estabilidade. Embora pequeno em população e território, o Estado tem se consolidado como uma plataforma logística e fiscal competitiva. Em 2024, atingiu nota máxima em transparência fiscal segundo a Secretaria do Tesouro Nacional – STN. O Porto de Vitória e o complexo portuário de Tubarão, operado pela Vale, são eficientes e vêm recebendo investimentos para ampliação.
O ambiente de negócios no Espírito Santo tem sido dos mais favoráveis do país, segundo o Banco Mundial. O Estado tem baixos índices de violência (com menos de 20 homicídios por 100 mil habitantes em 2023), bons indicadores de educação pública e políticas de incentivo à diversificação econômica. O PIB per capita supera os R$ 40 mil, e a taxa de desemprego é inferior a 6%.
Pernambuco, ainda que enfrente desafios estruturais, pode representar a âncora do Nordeste nesse novo ciclo. O Estado abriga o Complexo Industrial Portuário de Suape, um dos maiores do hemisfério sul, com movimentação anual acima de 25 milhões de toneladas e área alfandegada com amplo potencial de expansão. Apesar da distância dos grandes centros, Pernambuco tem mercado consumidor em crescimento e tradição industrial, especialmente nos setores químico, farmacêutico e alimentício.
A presença da UFPE e do Porto Digital no Recife tem criado um ecossistema de inovação notável no Nordeste. O Estado vem atraindo investimentos em energias renováveis, com destaque para eólicas no sertão e projetos de hidrogênio verde. Ainda que enfrente índices mais altos de violência e pobreza, Pernambuco tem realizado reformas para atrair novos investimentos e conta com apoio do BNDES e do BID para projetos estruturantes em saneamento, logística e mobilidade.
A nova corrida pelos investimentos não será determinada por benefícios tributários, mas por entrega. Entrega de infraestrutura, de pessoas preparadas, de segurança, de mobilidade e de previsibilidade. São Paulo continuará sendo relevante – talvez inevitável para algumas empresas –, mas está longe de ser o único polo viável.
Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Pernambuco apresentam, em graus variados, os ativos necessários para atrair empresas em busca de custo-benefício real. Os que souberem traduzir esses ativos em políticas públicas coordenadas poderão surpreender e redefinir o mapa industrial e logístico do país na próxima década.
Danilo Leal é sócio-conselheiro da /asbz. Atua na área tributária. Tem pós-graduação em direito tributário pelo IBDT (Instituto Brasileiro de Direito Tributário) e graduação pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Os artigos escritos pelos colunistas não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.